sexta-feira, 20 de maio de 2011

Açores - mai/11


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Ora pois, cá estamos nos Açores, mais precisamente em Horta, na ilha de Faial.

Tivemos uma navegada muito boa com a ajuda do Bruce, o weather router que nos auxilia. Acompanhamos os ventos de uma zona de baixa pressão e foi uma beleza!

Em alguns dias conseguíamos distinguir claramente a frente, com suas nuvens e ventos, e tínhamos a nítida impressão que estávamos surfando a beirinha dela, muito legal.

Mas enfrentamos alguns dias de calmaria, óbvio, e tivemos que motorar. Numa dessas noites tomamos um dos maiores sustos até agora: 02:45 da manha (porque essas coisas sempre acontecem a noite?), Paula e James no turno, soa o alarme de incêndio – e soar é uma sutileza, o negócio faz um barulho do cão – em instantes a Paula tá na frente do painel avisando “é no engine room”, nisso eu já estou passando por ela, indo pro salão do barco que está todo enfumaçado – hmmm aiaiai, será? Sinto a temperatura da porta, não está quente, menos mal, começo a abrir lentamente, não há sinais de chama. Ufa! Nesse meio tempo a Emma já estava do lado de fora com o James, o motor já havia sido desligado e a stay sail desenrolada para dar algum controle ao barco.

Já dentro do compartimento do motor identifico a causa. Incrivelmente, os rolamentos do esticador da correia do motor, que faz girar as bombas de água e o alternador, travaram, a polia parou de girar, a correia continuou girando e tudo virou uma massa de plástico disforme, fuligem, pedaços de borracha e fumaça pra todo o lado.

Que susto, que susto. Ninguém merece. Provavelmente tudo isso ocorreu em poucos minutos, contando assim parece tranquilo, mas olha, ter um alarme de incêndio e o barco todo enfumaçado de madrugada no meio do Atlântico é uma experiencia e tanto...

Mas valeu pela reação da tripulação Sempre treinamos/ensaiamos para essas situações – incêndio, homem ao mar, abandono do barco, etc. E o treinamento realmente fez a diferença. Todo mundo sabia o que fazer, papeis previamente definidos e todo mundo fez bonitinho sua parte, sem confusão nem pitis! Parabéns e obrigado tripulação!

A segunda parte também foi bastante interessante, achar um meio de fazer o motor funcionar de novo. Mais uma vez a criatividade dos engenheiros da Gambitech (expressão criada pelo Weber, do Acauã) salvou o dia. Uma cordinha daqui, vira o alternador pra lá, puxa esse fiozinho pro lado, amarra aqui, estica assim e pronto! Nosso motor voltou a ronronar macio e nos garantiu centenas de milhas navegando tranquilamente quando a calmaria finalmente nos alcançou.

Chegamos a Horta de madrugada, 12 dias e 2300 milhas desde Antigua e ficamos esperando clarear o dia para entrar no porto. Barco atracado, um brinde e um belíssimo café da manha.

Os Açores merecem a fama que tem. Muito, muito bonito e faz aquele friozinho gostoso. Tudo super arrumado, limpo. Não vimos sinais de pobreza. Arquitetura colonial, as pessoas atenciosas, doces. Legal mesmo. Comida também de primeira (polvo, bolinhos de bacalhau, hmmm) e preços mais do que justos.

Vulcões pra tudo quanto é lado. Aliás, vamos acabar nos tornando vulcanólogos, pois pensando bem, em todos esses lugares que temos visitado os vulcões são grande atração E tome subir montanhas, visitar crateras... Aqui a mais recente erupção foi em 1957/8 e as cinzas formaram um novo promontório. O museu tem todas as fotos do processo, fantástico!

Coisas famosas e tradicionais aqui em Horta: o Café Sport ou Peters bar, um bar mundialmente famoso entre os velejadores, faz parte da tradição náutica tomar um gorozinho la. Outra tradição é fazer uma pintura no pier, marcando sua passagem. Divertido também achar pinturas de amigos que por aqui já passaram. E, óbvio, as baleias. Os Açores são plenos em baleias e da época da caça só ficaram os museus. Hoje só se mira baleia com a máquina fotográfica. Inúmeros barcos levam os turistas para passeios junto a elas e incontáveis golfinhos.

Conservadores que somos, cumprimos a tradição a risca, avistamos baleias, cometemos nossa pinturinha e fomos repetidas vezes ao Peters bar. Muito bom poder falar sua própria língua ao fazer o pedido: uma cerveja grande, uma bagaça e bolinhos de bacalhau, por favor!

Agora estamos aguardando as peças para retomar a viagem, deu até pra atualizar o blog! Ah, esqueci de comentar que os dois controles do piloto automático também quebraram, além de ganharmos um belo vazamento na bomba do watermaker.

Geraldo e a Andy, que vão nos substituir assim que chegarmos em Palma tem nos acompanhado em todas essas e curtido bastante.

Felipe, grande apostador, ganhou uma aposta do Geraldo (de que lado os cajus ficam presos aos galhos?) Geraldo, caloteiro, não pagou... mas o Felipe tomou alguns dólares meus, pois apostamos que ele não teria coragem de entrar na água (17°C). O cara não teve duvida, tirou a roupa no meio da marina, ficou de cueca e tchibum! Putz!


Levou meu dinheiro, mas tenho o prazer de dividir com vocês, caros(as) leitores(as), as imagens desse rotundo atleta exercitando-se no Atlântico Norte.


Inté, beijos!